quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Descontinuado

Este blog atingiu o limite de carregamento de imagens, tornando impossível a sua continuidade. Os textos escritos a partir de 12 de Agosto, bem como os deste blogue, podem ser lidos no novo blog que criei nessa data, denominado Número f.
Obrigado pela compreensão. Espero que não deixem de visitar o novo blog - que é, para todos os efeitos, a continuação deste -, e que os textos até agora publicados no ISO 100 continuem a merecer o interesse dos muitos leitores que o visitaram.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Alerta de publicação

Enquanto o ISO 100 vai definhando, à míngua de imagens e textos, o Número f vai porfiando, já com números de visitantes bastante simpáticos. Os meus dois últimos textos são sobre um tema que bem gostaria de ter abordado aqui, mas a minha insistência em ilustrar os textos com imagens leva a que tenha de os escrever no WordPress. Os textos abordam as vantagens e desvantagens da fotografia analógica em relação à digital e podem ser lidos seguindo estas hiperligações:


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O ISO 100 não acabou

Tal como informei, o ISO 100 vai continuar. Simplesmente, paralelamente a ele vou manter um outro blog, o Número f, porque atingi o limite de publicação de imagens aqui no Blogger. Tentei criar um blog novo aqui neste espaço, mas o limite vale para o Blogger, e não apenas para um blog, pelo que resolvi transferir-me para o Wordpress. Ainda não aprendi todas as funcionalidades deste último, e o interface parece-me bem mais antipático e complicado, mas não quis deixar de escrever sobre fotografia de um ponto de vista estritamente amador, com o espírito humilde de partilha dos conhecimentos que vou adquirindo - e não o de escrever do alto de uma cátedra, o que de resto não me seria legítimo. Blogs e sites doutrinais já há muitos, mas acredito - sei - que estou a preencher um espaço ainda muito pouco explorado, e que recebi alguma simpatia pelo que vou escrevendo.
Por tudo isto - e aproveitando para agradecer de novo a todos os leitores que me têm seguido -, espero que o Número f seja visitado e lido como o foi o ISO 100 até agora. Não queria ficar com a sensação de que estou a começar tudo de novo, pelo que me parece importante manter o ISO 100 activo, sendo o Número f a continuação do primeiro. Não deixem de visitar o blog novo, pois ainda há muitas temáticas importantes a abordar neste hobby fantástico que é a fotografia.

domingo, 12 de agosto de 2012

Número f

O ISO 100 esgotou o limite de publicação de imagens. Não sabia, mas tinha uma quota de 1 GB de imagens a publicar, que chegou hoje ao fim. Substituir as imagens de maior resolução por outras era um trabalho para o qual não teria tempo, pelo que decidi criar um blog novo para que seja a continuação do ISO 100. Porque respeito os leitores e seguidores do ISO 100 (que atingiu esta semana 300 mensagens e 20 000 visualizações), e para não privar ninguém de ler os artigos que escrevi aqui - e eu posso dizer, sem falsa modéstia, que muitas pessoas consideram os meus textos úteis e interessantes -, vou manter o ISO 100 no ciberespaço. O Número f será a continuação do ISO 100, e é assim que quero que os leitores e seguidores o vejam. Tenho pena de não ser possível continuar o ISO 100 na forma actual, mas seria impensável escrever textos sobre fotografia sem que fossem acompanhados por ilustrações e, como referi, é praticamente impossível substituir as centenas de imagens que publiquei por outras de baixa resolução (o que seria um mero paliativo que apenas adiaria esta minha decisão por algum tempo).
O ISO 100 vai passar a ter textos estranhos: ligações para o que publicar no Número f. Espero não perder os meus leitores e seguidores, os quais convido a transferirem-se para o novo blog. E espero, evidentemente, que os leitores continuem comigo e sigam o Número f com o mesmo interesse com que seguiram o ISO 100. O Número f será em tudo igual ao ISO 100 - um blogue de um principiante da fotografia para outros principiantes. Não haverá alterações nas suas temáticas, sobretudo por respeito a quem acompanhou este blog. Também não é, como já disse, o adeus ao ISO 100: é uma sucessão, ou uma transição, que espero seja o mais suave possível.
Até já. Vemo-nos no Número f.

Completamente fora do tópico

Anton Bruckner
Como Jorge Sampaio poderia ter dito, há vida para além da fotografia. Claro que este é um blogue sobre fotografia, mas tal não me impede de escrever sobre assuntos fora deste tópico, porque tenho vários outros interesses na minha vida.
Um deles é a música. Ainda na Sexta-feira publiquei aqui um texto acerca de um vídeo musical - que, apesar de tudo, tem uma conexão estreita com a fotografia -, mas os meus interesses musicais transcendem as fronteiras da música popular (à falta de um adjectivo mais específico), seja ela pós-rock, pop, electrónica ou alternativa. Há o Jazz, também - sou um consumidor ávido de Thelonious Monk, John Coltrane, Sonny Rollins, Miles Davis, Wynton Kelly e outros gigantes do bebop -, mas a forma musical suprema é a clássica. «Clássica» é um adjectivo impróprio, porque é usado para definir uma época específica da música em que pontificaram compositores como Haydn e Mozart, mas é de longe preferível a «música erudita», que lhe confere um carácter exclusivista e, digamos, um pouco pedante. Dentro da música clássica há um compositor que venero acima de todos: o austríaco Josef Anton Bruckner Jr., ou, singelamente, Anton Bruckner. Ao escrever isto, sei que os idólatras de Beethoven se vão sentir escandalizados, mas este é o meu gosto. Beethoven é, evidentemente, o compositor mais importante de sempre, e o mais prolífico: apenas deixou por compor um concerto para violoncelo; mas a música de Beethoven é fortemente limitada pelo facto de não ter dominado a técnica da fuga, pelo que muitas das suas composições são variações sobre uma ou duas frases musicais, parecendo nunca abrir completamente as asas e voar rumo ao infinito, pairando permanentemente em círculos (embora, evidentemente, a uma altitude que muito poucos atingiram). Se acham que estou a ser ultrajante, ignorante ou desrespeitoso, ouçam o primeiro andamento da 2.ª Sonata para violoncelo - recomendo, em particular, a execução de Sviatoslav Richter e Mstislav Rostropovitch - e verão que isto é verdade. De resto, a 7.ª de Beethoven - em especial o Allegretto - é das minhas composições favoritas desde há muito tempo.
Em contrapartida, Anton Bruckner distinguiu-se como organista; a sua reputação era de tal ordem que, quando ele e César Franck se encontraram em Paris, este insistiu em beijar as mãos daquele que reputava ser um organista divino. As peças para órgão baseiam-se largamente na técnica da fuga, e Bruckner inspirou-se nas composições para este instrumento para escrever as suas sinfonias. E é também, como recentemente me confirmou o Sr. Carlos, baixo no Coro da Sé, o mestre da polifonia. A questão que Bruckner levanta, e o impede de ser considerado tão influente como um Beethoven, é a de ter escrito relativamente poucas composições: além das nove sinfonias - não por acaso tantas como as de Beethoven, que de resto Bruckner venerava -, escreveu o Te Deum, missas, motetes e um quarteto e um quinteto para cordas. E pouco mais, pelo menos do que está documentado.
Para a relativa impopularidade de Bruckner contribuíram também vários outros factores. Antes de mais, a sua personalidade. Bruckner era aquilo a que poderíamos chamar, sem insulto, um labrego - embora um labrego cheio de génio -, o que não o ajudou a conquistar fama numa Viena elegante, sofisticada e cosmopolita. (Bruckner nasceu em Ansfelden, no norte da Áustria, em 4 de Setembro de 1824, mas viveu em Viena durante a sua fase mais prolífica e até ao fim da sua vida.) E era um católico devoto e um celibatário, um homem de gostos simples e vida espartana - a sua forma de vestir despertava o sarcasmo dos vienenses -, o que o tornava deveras impopular. Sofreu, ao longo da maior parte da sua carreira, os escárnios de uma comunidade musical conservadora e refractária à evolução, que idolatrava Brahms e tinha como maior influência o crítico Eduard Hanslick. E a música de Bruckner, que na sua fase mais tardia e mais prolífica, em que avultam as nove sinfonias, recebeu a influência da obra de Richard Wagner, era demasiado incompreensível para a comunidade musical vienense. Bruckner podia ser um rústico, mas a sua música, salvo alguns apontamentos nos scherzi das suas sinfonias, era tudo menos rústica. 
É preciso ter em mente que, nessa segunda metade do Século XIX, havia uma divisão profunda entre os amantes da tradição romântico-clássica, nascida com Beethoven e personificada por Johannes Brahms, e os seguidores da inovação do romântico tardio iniciada por Richard Wagner. Esta rivalidade, e o domínio destes dois compositores - que reduziam todos os outros a irrelevâncias -, levou a uma divisão profunda. Optar pelo lado de Wagner, como o fez Anton Bruckner, era anátema nessa sociedade conservadora e de mentes estreitas que era a de Viena, cidade onde estava o coração das artes no Século XIX.
Eugen Jochum
De toda a obra sinfónica de Anton Bruckner, há sinfonias que ganham mais relevo que as outras. Eu tenho, para além de uma gravação da 9.ª Sinfonia por Harnoncourt com a Filarmónica de Viena (v. adiante), uma caixa de CDs com a integral das sinfonias de Bruckner, incluindo a Sinfonia «Zero» (Nullte), que Bruckner compôs mas rejeitou por a entender de qualidade insuficiente. À excepção da Nullte, as nove sinfonias dessa caixa de CDs são interpretadas pela Staatskapelle Dresden sob a direcção do magnífico Eugen Jochum.  Não houve nenhum andamento das nove sinfonias que eu não tivesse escutado com atenção - mas não atribuo o mesmo valor a todas. A 2.ª, 3.ª, 5.ª, 7.ª, 8.ª e 9.ª são, de longe, as mais relevantes e importantes, e é nas três últimas que o génio de Anton Bruckner atinge toda a sua majestade. A 7.ª começa com uma das melodias mais belas que alguma vez foi composta, com o tema musical mais longo que Bruckner escreveu seguido de uma longa fuga (os andamentos das suas sinfonias duram entre quinze e vinte e oito minutos, conforme o maestro e a sua interpretação), fuga que culmina num tema inspirado na música sacra que é um dos momentos mais sublimes da música bruckneriana. O Adagio da 7.ª é um dos andamentos mais majestosos jamais compostos, e a interpretação de Eugen Jochum é, possivelmente, das melhores que foram gravadas, juntamente com a de Wilhelm Furtwängler. A 8.ª sinfonia é ainda melhor - o Scherzo e o Finale da 7.ª desequilibram um pouco a grandeza obtida com o Allegro Moderato e o Adagio -,  sendo o Finale uma das composições mais poderosas e telúricas existentes - em particular o Gran Finale, em Dó Maior, que é de uma grandeza e poder incomparáveis.
Depois há a 9.ª, a sinfonia incompleta que Anton Bruckner não teve tempo de acabar - em parte pela sua preocupação obsessiva em rever as sinfonias anteriores. O primeiro andamento é uma peça que imagino ter sido um choque para a Viena brahmsiana e para Eduard Hanslick: prefigura as composições de Gustav Mahler e Richard Strauss. O Scherzo é também estranho, algo nunca ouvido até então, uma composição de uma energia e força sem quaisquer pontos de comparação. À medida que Bruckner ia avançando na idade, as suas composições tornavam-se mais fortes e telúricas, ancoradas à terra por percussões e contrabaixos enérgicos e com uma abundância de metais que lhes conferiam uma força enorme - e, em simultâneo, uma grandeza e elevação que são o produto de uma mente devota, impregnada de elevação divina e de temor a Deus. Mesmo um agnóstico como eu se vê compelido a reconhecer, nas sinfonias de Bruckner - mas também no Te Deum e nas missas, obviamente -, esta inspiração, este desejo incansável de glorificar Deus.
Esta última característica da produção sinfónica de Anton Bruckner é especialmente audível no Adagio da 9.ª Sinfonia. A Nona foi por Bruckner dedicada a Deus Todo-Poderoso, e o último andamento é a expressão dos sentimentos de Anton Bruckner diante da morte e da eternidade. Não tenho dúvidas - a despeito de não ser um religioso - em considerar que o Adagio da 9.ª Sinfonia de Bruckner é o momento maior da música sinfónica. O clímax deste andamento (aos 22m40s deste vídeo), que é antecedido por uma progressão ascendente que evoca a ascensão ao Paraíso, é um dos pontos mais altos, não da música clássica, mas de toda a cultura europeia, considerada no seu conjunto e em toda a sua história. É difícil descrever o que nos percorre quando se escuta todo aquele poder, aquela força tremenda, aquela beleza que nos deixa esmagados e comovidos. Nada, na música dita clássica, se compara a este clímax; diante dele, o Finale da 9.ª de Beethoven assume um carácter ligeiro, fácil e inexpressivo. Não me interpretem mal: a 9.ª de Beethoven deve orgulhar qualquer um por poder dizer que pertence à mesma espécie (a humana) que Ludwig van Beethoven - mas é aquela peça que estamos fartos de ouvir, interpretada por criancinhas com os seus pífaros desafinados e assassinada por qualquer agrupamento musical com pretensões eruditas. E é o hino da União Europeia, essa instituição cada vez mais odiosa. Uma verdadeira overdose que impede a minha apreciação plena. O Adagio da 9.ª de Bruckner, em contrapartida, é a obra-prima não reconhecida, condenada a ser conhecida e apreciada apenas por um núcleo mais ou menos restrito de pessoas com conhecimentos que vão para além das produções discográficas mais extensamente divulgadas.
As interpretações da 9.ª Sinfonia tendem a ser muito distintas em carácter; sendo uma sinfonia inacabada, foi editada por vários discípulos e estudiosos, existindo as edições de Ferdinand Löwe, Orel, Nowak e Benjamin Cohrs. E cada maestro parece ter os seus pontos de vista quanto ao ritmo - ou, se quisermos, a velocidade das interpretações. Hans Knappertsbusch segue a edição Löwe, considerada demasiado literal e pouco fiel às intenções de Bruckner; Eugen Jochum, brilhante em tudo o mais, tem interpretações algo inexpressivas do Scherzo e do Adagio da 9.ª Recomendo-o, contudo, para todas as outras sinfonias, em especial a 7.ª e a 8.ª Quanto à 9.ª, as melhores interpretações que conheço - e não conheço todas - são as de Günter Wand, Georg Tintner (um dia o mundo há-de prestar a devida homenagem a este grande maestro que, sendo judeu, foi um dos que melhor soube transmitir a religiosidade das sinfonias de Bruckner) e, sobretudo, Nikolaus Harnoncourt. Esta (editada pela RCA em CD e SACD e tocada pela Filarmónica de Viena) é uma interpretação moderna e poderosa que recomendo vivamente.
Por fim, não deixem de ler a biografia que Werner Wolff escreveu em 1942, com o título Anton Bruckner, Rustic Genius (que pode ser descarregada aqui). É um texto muito interessante que ajuda a compreender a obra de Bruckner enquanto emanação da pessoa de nome Josef Anton Bruckner Jr.      

sábado, 11 de agosto de 2012

Mortos, quentes e encravados

Mais um título enigmático. O que quero referir hoje é o facto de, por vezes, poderem surgir pontos luminosos na imagem - pontos brancos ou coloridos, que são vermelhos, azuis ou verdes neste último caso (os vermelhos são os mais conspícuos). Já certamente aconteceu a muitos fotógrafos, especialmente em fotografias com exposições longas - em particular de cenas nocturnas -, abrir a imagem no programa de edição e reparar que aquela está completamente coberta por pequenos pontos brancos ou coloridos.
Estes pontos são pixéis que não fizeram aquilo que lhes era pedido - captar a luz correctamente -, e devem-se exclusivamente a problemas do sensor. O fotógrafo escusa de mandar limpá-lo, porque não são grãos de poeira; tão-pouco é pó acumulado sobre o vidro da lente, e certamente não são partículas suspensas na atmosfera (como estupidamente cheguei a especular). Também não se deve culpar o programa de edição de imagem, porque este não é o responsável pelo problema. O que acontece é que o sensor é constituído por vários milhões de células electrónicas de tamanho microscópico que, por meio de descargas eléctricas, se tornam sensíveis à luz e a captam. Algumas destas células deixam, por qualquer motivo, de funcionar, ou pelo menos de o fazer correctamente. Como as células estão dispostas num arranjo dito filtro Bayer, captando as cores primárias verde, vermelho e azul (RGB) (*), alguns pixéis surgem na imagem com a cor primária que lhes cabia captar, em lugar da cor real do objecto. São os pixéis encravados, ou fixos, conforme queiramos traduzir o adjectivo stuck.
Os pixéis mortos são provocados por fotossensores que deixaram de funcionar e manifestam-se como pontos negros na imagem. Isto é algo que acontece naturalmente com o desgaste do material, mas também é certo que muitos dos fotossensores deixam de funcionar logo após o fabrico do sensor, sendo montados no corpo da câmara assim mesmo. Muitos escapam ao controlo de qualidade, já que a sua dimensão microscópica faz com que passem despercebidos.
Clique para ampliar
Depois há aqueles que, numa má tradução literal de hot, denominei pixéis «quentes». Estes são o resultado do aquecimento do sensor durante exposições longas - daí o nome - e manifestam-se como pontos brancos que invadem a imagem e são particularmente visíveis nas áreas de sombras (v. a imagem imediatamente acima, que é um crop da fotografia do topo).
Sejam quais forem os pixéis defeituosos, estes arruínam por completo o prazer de ter feito as fotografias por eles afectadas. As manchas geradas podem ser removidas na pós-produção, mas o seu número elevado leva a que esta seja uma tarefa fastidiosa. A solução para evitar o aparecimento de pontos brilhantes e de pixéis mortos é o mapeamento de pixéis. Esta tarefa implica a entrega da câmara a um técnico, o que pode significar ficar sem fotografar durante algum tempo, mas algumas marcas permitem que o mapeamento seja feito pelo utilizador através de uma função incorporada nos menus. Alguns modelos fazem este mapeamento automaticamente. No meu caso particular, o mapeamento deve ser feito uma vez por ano. Quando se mapeia o sensor, o problema dos pixéis mortos e fixos é resolvido através de algoritmos pelos quais os pixéis que circundam os defeituosos interpolam o espaço ocupado pelos pixéis defeituosos.
O problema dos pixéis quentes resolve-se accionando a redução do ruído da câmara. Apesar de esta ser uma prática que os fabricantes de software de processamento da imagem desaconselham, a sua acção pode ser a única forma de contrariar os efeitos destes pixéis que se manifestam em exposições longas. A redução do ruído produz uma imagem dupla que é sobreposta à imagem colhida pelo sensor - o que efectivamente dobra o tempo de exposição - e mascara, quer o ruído propriamente dito, quer os pixéis defeituosos. A redução do ruído na câmara interfere negativamente com a do programa de edição, uma vez que contribui para o esbatimento dos pormenores afectados pelo ruído, mas penso que esta questão pode ser contornada através de um uso judicioso da redução do ruído na pós-produção. É que esta última pode ser ineficaz no tratamento dos pixéis defeituosos, já que este problema não é, tecnicamente, similar ao ruído, pelo que o software pode não o corrigir.
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(*) Nem todos os sensores usam o filtro Bayer. Os sensores Foveon usam uma disposição diferente, com três filtros de cor sobrepostos (correspondendo a cada uma das cores primárias), em lugar de combinar os captores das cores primárias num único filtro. Contudo, a esmagadora maioria dos sensores usa o sistema Bayer - que, é importante referir, nada tem que ver com a Aspirina.  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Prepara o teu caixão

Capa da edição em vinil de Beacons of Ancestorship
O título é macabro, eu sei - mas pelo menos não é ordinário nem insultuoso como os de uma certa revista de fotografia online portuguesa que eu conheço. Este título é a tradução literal do de um tema musical de uma das minhas bandas preferidas: os Tortoise.
Prepare Your Coffin é um tema absolutamente sublime. Os Tortoise, banda cujo mentor é John McEntire, dedicam-se a um tipo de música denominado pós-rock. Não gosto de rótulos, e este, em particular, parece prenunciar a morte do rock - o que ainda não aconteceu nem acontecerá tão cedo - e a sua sucessão, mas o que se entende por pós-rock é muito simples - música de carácter experimental, inserida no estilo do que faziam os Kraftwerk, mas tocada com instrumentos orgânicos - guitarras, bateria, baixo. As suas raízes estão naquilo a que chamavam o Krautrock, estilo fortemente influenciado pelos Kraftwerk e tocado por bandas como os Neu! e os Can. Os Tortoise retomaram onde estes grupos pararam, tendo-se constituído como uma banda influente e respeitada. Apesar de o último álbum, Beacons of Ancestorship (que inclui este Prepare Your Coffin) ter muito mais electrónicas que os anteriores - eu tenho, além deste, o Millions Now Living Will Never Die e o TNT -, a linguagem é totalmente coerente com o que os Tortoise sempre fizeram. Ouvir Prepare Your Coffin leva-me de imediato para os tempos dos Can e dos Neu! (o ponto de exclamação não é meu, faz parte do nome da banda).
E perguntará o leitor, apesar de já habituado a algumas incursões minhas fora do terreno da fotografia, a que propósito vem isto. Bom, antes de mais sou um melómano, como alguns já terão reparado. Mais pertinente do que esta minha melomania, porém, é o facto de querer partilhar com os leitores um vídeo que é uma das mais fantásticas homenagens de uma arte a outra: neste caso, uma homenagem da música à fotografia. O vídeo de Prepare Your Coffin é um tributo quase comovente à fotografia: um fotógrafo, equipado com o que parece ser uma câmara analógica, à procura de linhas e enquadramentos perfeitos. No vídeo surgem linhas simples, mas fortes, paisagens a preto-e-branco que encheriam de satisfação qualquer fotógrafo digno desse nome. Não vou dizer que teve influência na minha maneira de fotografar - apesar de o vídeo ser anterior à minha dedicação à fotografia -, porque não é verdade, mas toca-me num ponto sensível e une duas das minhas paixões. Claro que, quando procurei o video no YouTube, estava interessado na música, e não exactamente nas filmagens, mas foi uma surpresa muito recompensadora tê-lo descoberto. Não me passaria pela cabeça escrever um texto sobre um vídeo de música se esta última não me agradasse, mas este vídeo é particularmente bem realizado e apela ao olhar e à sensibilidade do fotógrafo, pelo que entendo ser merecedor da atenção da comunidade fotográfica.
Espero que gostem da música e do vídeo; pessoalmente, entendo que quem não gosta dos Tortoise não merece ocupar o seu lugar na espécie humana e devia ser atado a um pelourinho e o seu corpo deixado à voracidade dos abutres, mas esta coisa dos gostos musicais é algo de muito pessoal. Se não gostarem da música, ao menos deleitem-se com as imagens.