quinta-feira, 12 de abril de 2012

O sensor Foveon

Não tenho por regra escrever sobre questões tecnológicas, por duas razões. A primeira é que elas só são importantes se contribuírem para uma melhoria na qualidade da imagem; a segunda é a minha falta de aptidão - os meus saberes estão no campo das humanidades, não das ciências. O que não significa que as tecnologias sejam de menosprezar.
Na terça-feira o Digital Photography Review publicou uma análise crítica de uma câmara cheia de singularidades: a Sigma SD1. Entre outras particularidades e idiossincrasias que a distinguem, esta câmara tem um sensor de uma tecnologia que me parece extremamente interessante: o sensor Foveon. As explicações sobre este captor de luz podem ser lidas com mais precisão aqui, mas pelo que entendi o Foveon, ao contrário dos sensores Bayer comuns a quase todas as câmaras (a Fujifilm tem um sensor inovador na X-Pro 1, mas baseia-se no sistema Bayer), que dispõem os pixéis numa única camada, sendo a luz filtrada e dividida para que apenas alguns pixéís «leiam» cada uma das cores primárias, o sensor da Sigma SD1 tem três camadas, dispostas com base na capacidade de penetração da luz no silicone, correspondendo cada uma às cores vermelha, verde e azul. Daí que a Foveon, companhia que inicialmente desenvolveu esta tecnologia (o sensor da SD1 difere do original por ser maior, com a área de um APS-C), denomine esta tecnologia «X3». Este sensor, por ter três camadas - uma para cada cor primária, como vimos -, tem uma resolução de 15 MP X 3 (15 MP por cada camada), o que resulta numa resolução teórica de 45 MP, mas a sua resolução potencial é de 30 MP. O que já é um número impressionante, convenhamos.
Este sensor Foveon tem ainda a singularidade de dispensar o filtro anti-moiré, ou antialiasing: os sensores Bayer, para evitar a aberração conhecida por moiré, usam um filtro que introduz uma suavização artificial da imagem de maneira a que a aberração não se note, mas esta filtragem, como parece evidente, reduz a resolução.
Como ficou mais ou menos explícito no primeiro parágrafo, se estou a escrever sobre esta câmara e este sensor não é porque esteja particularmente interessado na sua aquisição, nem em versar aspectos tecnológicos que estão para além dos meus conhecimentos, mas porque esta tecnologia me parece cheia de potencial para um purista da fotografia. A câmara, que inicialmente foi proposta com o preço absolutamente obsceno de USD $6,900 e custa agora €2.100,00 (só o corpo), é interessante, mas tem especificações que fazem rir os fanboys da Canon e da Nikon: não tem visualização directa no ecrã, não tem vídeo (o que merece o meu aplauso) e o sensor, do tamanho de um APS-C, produz um nível de ruído muito elevado a sensibilidades ISO acima dos 800. (Não excluo que muito deste ruído seja causado por uma relação sinal/ruído muito pobre, atento o número de megapixéis disposto num sensor que, apesar das três camadas, é essencialmente um APS-C nas suas dimensões.)
Simplesmente, quando se abstrai destas desvantagens - se é que realmente o são -, o que fica é, pura e simplesmente, a melhor resolução de todas as câmaras do seu segmento. As imagens obtidas com a Sigma SD1, especialmente em raw, são de cortar a respiração. Imagens de texturas finas, que são o pesadelo de qualquer sensor Bayer por causa do moiré, surgem com uma definição absolutamente impressionante, e a quantidade e qualidade dos pormenores subtis captados é espantosa. 
E, se a resolução é fantástica, é na apresentação das cores que a Sigma brilha mais intensamente: as imagens comparativas mostram cores que, inicialmente, parecem severamente dessaturadas, ou mesmo mortiças; quando observamos com atenção, porém, e comparamos as imagens com as das suas rivais, vemos que estas últimas é que estão erradas. Com efeito, as cores da SD1 são neutras, e não mortiças. São cores absolutamente precisas. As outras câmaras produzem cores que, em comparação com a SD1, parecem artificiais, excessivamente saturadas e com uma ausência completa de naturalidade. As outras câmaras são concebidas para agradar numa apreciação superficial e imediata; a Sigma SD1 conta a verdade acerca das cores. Não é uma câmara para agradar às multidões, mas a um número relativamente restrito de puristas que procuram a maior qualidade e fidelidade possíveis numa câmara digital - mesmo com o sacrifício de alguns adereços que a procura impôs ao mercado fotográfico, como o vídeo.
Se estou a escrever este artigo é por estar inteiramente convicto que esta tecnologia é uma enorme evolução na qualidade da imagem. Esta câmara não é para os tarados do ISO que se babam sobre o teclado quando lêem que uma câmara é capaz de sensibilidades da ordem das centenas de milhares, mas é excelente para quem procura a maior qualidade da imagem possível. A neutralidade das cores facilita o trabalho de edição das imagens, porque é mais fácil saturá-las que o inverso; contudo, ver as imagens produzidas por esta câmara (aqui) demonstra que a precisão das cores produz resultados imensamente satisfatórios, mesmo sem qualquer trabalho de pós-produção. E a resolução, com a total ausência de aberrações, tem o potencial de criar imagens de um realismo que não está ao alcance da tecnologia Bayer. O futuro da fotografia digital pode muito bem passar por aqui.

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