terça-feira, 17 de julho de 2012

A verdade sobre as compactas

Por vezes entretenho-me a ver as primeiras fotografias que fiz, ainda com a compacta que dava pelo nome (completo) de Canon PowerShot A3150is. Em relação a algumas delas, não sinto vontade de as apagar - o que é, pelos critérios macedónios, um sinal de aprovação.
Esta manhã fui mais longe e resolvi fazer algo que nunca fizera antes: analisar algumas dessas fotografias em tamanho real (1:1) e processá-las com o DxO Pro 7. O resultado? Chega a ser embaraçoso admitir que tive aquela câmara, e ainda mais pensar que publiquei aquelas fotografias na Internet. Sabem aquelas pessoas que dizem que uma compacta é tudo quanto basta para se tirarem grandes fotografias? Quando estiverem com uma delas, telefonem discretamente para o 112 e dêem indicações para que seja trazido um colete de forças. As compactas são uma bosta!
«Ah, mas ele exagera» - pensarão alguns, confortados com a ideia que uma imagem digital é uma quantidade de bits e pixéis, pelo que não há diferenças relacionadas com a câmara e as lentes. Falso. À fraca resolução de um sensor com os pixéis amontoados num espaço minúsculo, acrescem as deficiências de ópticas que, querendo fazer tudo, fazem quase tudo mal. Até agora tenho-me limitado a advertir contra o uso destas câmaras; hoje proponho-me ilustrar as suas deficiências.
A imagem acima foi uma que nunca rejeitei. Pelo contrário: depois de passada para preto-e-branco, e se abstrairmos do careca no canto inferior direito, há nela um ambiente muito Aniki-Bóbó (foi tirada na Ribeira, a verdadeira, a da margem norte do Rio Douro), e gostei de ter conseguido fotografar o momento em que o miúdo que mergulha toca com a ponta dos dedos na água. Mas, vista de perto, esta fotografia é horrível: os pormenores estão completamente esbatidos, demonstrando uma falta de resolução que parece ser tanto mais grave quanto maior é a distância focal usada. Mesmo depois de a tratar com o unsharp mask (que, no DxO Pro 7, é o menos agressivo e mais eficaz que já experimentei), existe uma enorme falta de definição, como se fossem duas fotografias idênticas sobrepostas com uma diferença de alguns milímetros.
No caso da imagem da gaivota pousada sobre a chaminé, com a clarabóia a equilibrar a imagem, o problema é o mesmo: uma falta de resolução inaceitável que, de novo, parece agravada pelo emprego do zoom - mesmo que este seja óptico, e não digital. O Pro 7 fez um excelente trabalho ao equilibrar as altas luzes e as sombras, mas esta fotografia não tem uma qualidade aceitável. Digamos que nunca a mandaria imprimir. A imagem que vêem foi também tratada com o unsharp mask, mas esta função, neste caso, limita-se a dar nitidez a pixéis fragmentários. Num tamanho pequeno mal se nota, mas vejam o que acontece com um crop (que nem sequer é de 100%) da imagem:
Esclarecedor, não é? Notem que esta é uma imagem já processada com recurso ao unsharp mask; não me peçam para descrever como estava antes do tratamento!
Depois há a questão do ruído. Interiorizei, desde muito cedo, a ideia que não devia dar rédea solta à câmara, para que esta não escolhesse automaticamente o valor ISO, e que este devia ser mantido no mínimo. Mesmo com o valor ISO no mínimo, o ruído manifesta-se com enorme agressividade mesmo em imagens feitas à luz do dia e com abundância de sol. Infelizmente, a redução do ruído nada pode fazer para melhorar estas imagens, porque o ruído destruiu a informação necessária à recuperação da nitidez e do contraste. A redução do ruído limitou-se a dar um aspecto ainda mais artificial à imagem, como se pode ver na fotografia seguinte:
Todas estas fotografias foram feitas com distâncias focais razoavelmente elevadas. As imagens com distância de grande-angular têm outro tipo de aberrações, como uma distorção geométrica fortíssima que curva as linhas direitas de uma forma grotesca.
Comprar uma compacta é uma perda de tempo e de dinheiro. No meu caso, comprei a Canon 3150 porque não sabia nada de técnica fotográfica: apenas sabia que sentia uma necessidade urgente de fotografar. Se soubesse o que sei hoje, teria amealhado mais dinheiro e esperado até ter o suficiente para comprar uma câmara decente.
Resta dizer que a Canon 3150, entretanto «descontinuada», estava longe de ser uma das piores compactas; tinha, até, algumas qualidades: cores agradáveis, um sistema de estabilização da imagem bastante eficaz e algumas possibilidades de controlo pelo fotógrafo, sendo possível evitar os modos automáticos e usá-la em modo P, tendo deste modo acesso ao controlo da medição, do ISO e do equilíbrio dos brancos. E tinha compensação de exposição,o que era utilíssimo. Há compactas muito, muito piores. Quanto a estas, mais vale fazer fotografias com um iPhone - ou, melhor ainda, com um Nokia 808. Ao menos só têm de transportar um aparelho electrónico. (Mas o ideal é mesmo comprar uma reflex ou uma boa mirrorless.)
Esta falta de qualidade das compactas é de tal maneira notória que os fabricantes estão a lançar compactas com sensores muito maiores que o habitual - mas mesmo assim fica por resolver a questão da qualidade das ópticas. Claro que esta tendência não é só motivada pela qualidade de imagem em si, mas também pela concorrência dos telemóveis. Esta nova geração de compactas não faz mais do que adiar o declínio das compactas perante os telemóveis (ou smartphones, que é como os génios do marketing chamam a estes telefones, provavelmente para os distinguir dos stupidphones). Mas esta é outra ilusão: um smartphone pode fotografar melhor que muitas compactas, mas nunca fará o mesmo que uma câmara de qualidade decente.

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