terça-feira, 5 de junho de 2012

DxO Optics Pro, v7.5: o teste (1)

Conforme prometido, aqui fica uma análise crítica, em quatro capítulos, do DxO Optics Pro 7, versão .5, software de edição de imagem que adquiri no Sábado depois de inúmeras - e quase insolúveis - dúvidas e hesitações. A DxO é um laboratório francês, com sede nos arredores de Paris, em Boulogne-Billancourt (onde, curiosamente, fica também a sede da Renault). Produz software óptico para diversas empresas e possui um sistema exaustivo de testes - os famosos DxOMark - que incidem exclusivamente sobre sensores e lentes, o que lhes assegurou notoriedade e reconhecimento na comunidade fotográfica. Embora os resultados dos testes sejam por vezes controversos, como os mastodônticos 95% do sensor da Nikon D800E, estes testes têm de ser inseridos num contexto: os DxOMark analisam o desempenho puro do sensor da câmara analisada, deixando de fora aspectos como o desempenho do fotómetro, o processamento dos JPEGs, a velocidade da focagem automática, etc., pelo que os testes não podem ser interpretados como se fossem os ensaios de câmaras que se encontram no DPReview ou no DCResource. Os laboratórios DxO baseiam-se na experiência adquirida através destes testes para conceber e desenvolver os produtos para o público em geral, como este Pro 7 e o DxO Film Pack, um plug-in do primeiro que visa simular a aparência das fotografias da era do filme.
Optei pelo Pro 7 em detrimento do Adobe Lightroom 4 por uma única razão - as imagens, quando processadas através do DxO, ficavam consistentemente mais satisfatórias, e com muito menos trabalho. Claro que esta é uma preferência pessoal: os resultados são mais satisfatórios de acordo com os meus padrões, que não são necessariamente os mesmos de outros fotógrafos.
Chegou a altura de partilhar com os leitores do ISO 100 as minhas impressões acerca deste software praticamente desconhecido em Portugal, impressões essas que foram forjadas no tratamento quase diário de centenas de imagens, quer no formato RAW, quer em JPEG, ao longo de um mês.
Quando se abre o Pro 7, recebe-se uma mensagem de boas vindas através de uma janela pop-up, logo seguida de uma outra que supostamente nos ajudará nos primeiros passos. Usem a opção do not show this again para ambas, porque ao fim de algum tempo o «tutorial» acaba por se tornar irritante. O interface do Pro 7 é extremamente simples, pelo menos quando comparado com o Lightroom: o que nos aparece, quando abrimos o programa, é uma página com três separadores na barra de status, com os nomes, respectivamente, «Organize», «Customize» e «Process». Para seleccionar a imagem a processar, usa-se o separador «Organize», que exibe, do lado esquerdo, as diversas localizações do disco rígido numa hierarquia de programas, pastas e subpastas semelhante à do explorador do Windows (*). Selecciona-se a pasta onde está guardada a imagem a processar e, num rodapé semelhante ao de qualquer outro programa de edição de imagem, surgem as fotografias guardadas na pasta seleccionada. Até aqui nada de esotérico: é até bastante simples localizar uma imagem. As coisas começam a complicar-se quando se decide aceitar a sugestão de organizar o workflow sob a forma de «projectos» (o que não é o meu caso, mas decerto é interessante para profissionais).
A imagem é escolhida clicando-a ou arrastando-a do rodapé para a área de trabalho, sendo então automaticamente aplicados os presets da própria DxO. Os resultados podem ser comparados com a imagem original com um simples clique no botão esquerdo do rato ou usando a opção de visualizar duas janelas. O resultado típico desta aplicação será uma imagem mais nítida, na qual foram corrigidos os excessos de sombras, o ruído e, desde que a câmara e a objectiva façam parte da base de dados da DxO, as distorções ópticas e as aberrações cromáticas. O resultado da aplicação deste preset pode ser tão bom que o utilizador considere dispensável qualquer outro retoque; se for esse o caso, pode avançar-se de imediato para o processamento seleccionando o marcador «Process» (que, por conveniência de sistematização, será referido mais adiante); se o resultado ainda não for satisfatório, deve abrir-se o separador «Customize». Aqui surgem duas colunas, uma de cada lado da área e trabalho, e uma barra de ferramentas na parte superior. Do lado esquerdo surge o histograma, uma miniatura que vai servir para navegar a imagem quando for ampliada, a informação EXIF da imagem e uma barra de ferramentas. No meu caso desactivei uma outra função: os presets pessoais. Não os uso porque cada fotografia implica um conjunto particular de problemas que dificilmente se repetirão, mas são úteis para quem faz muitas fotografias do mesmo objecto e com o mesmo enquadramento. A coluna do lado direito é where the wild things are: nela aparecem as ferramentas de edição da imagem, agrupadas em quatro caixas: luz, cor, geometria e pormenor. Mas isto apenas aparece quando se comuta um botão, na barra de ferramentas, de um menu intitulado «DxO - First steps» para «DxO - Advanced user». Sem esta comutação, apenas algumas ferramentas básicas serão activadas.
Vamos ver, de maneira sistemática, o que cada uma destas caixas para o utilizador avançado contém - não sem antes recordar que a DxO reputa a aplicação das suas pré-definições suficiente, e quem ler o fastidioso manual de instruções (pode ser obtido aqui) sentirá, possivelmente, um vago complexo de culpa por se sentir tentado a usar as ferramentas de edição. É que a DxO tem uma filosofia que poderia ser descrito da seguinte forma: Tu ne sais rien sur photographie, nous savons tout sur photographie; tais-toi et fais ce que nous disons. Se o utilizador, qual Gama dobrando o Cabo das Tormentas e enfrentando a fúria do Adamastor, se aventurar a editar a imagem para além da correcção automática, esta epopeia começa com a compensação da exposição, que é o primeiro dos menus incluídos na caixa «Light» (luz) do lado direito. Pode-se optar por compensar manualmente a exposição, por via de um botão que percorre uma barra da esquerda até à direita e vai de -4EV a +4EV. Ou então pode-se escolher uma das quatro opções automáticas do programa: prioridade às altas luzes ligeira, média e forte, ou ponderada ao centro.
Por aqui já se percebe que aquilo a que a DxO chama compensação de exposição - erradamente, porque a imagem não é globalmente afectada como quando se usa a compensação da exposição da câmara - não é mais que o controlo das altas luzes, embora apresentado de uma forma mais conceitual que o controlo inteiramente manual do Lightroom. Seja como for, o controlo das altas luzes do Pro 7 é absolutamente genial: mesmo os casos mais severos de imagens com altas luzes estouradas - desde que a imagem não esteja arruinada pelo excesso de luz - são brilhantemente recuperados pelo software. Mas é preciso ter em conta que estes resultados (que são mais interessantes que aqueles que podem ser obtidos com o Lightroom) só podem ser obtidos se forem usados ficheiros RAW. O manual explica que os ficheiros JPEG, já tendo sido corrigidos pelo processador da câmara, perderam informação essencial à recuperação dos pormenores escondidos sob as altas luzes, pelo que a gama de correcções de ficheiros JPEG é consideravelmente menor, apenas permitindo a compensação manual da exposição.
As altas luzes (tal como as sombras) podem ser visualizadas na imagem carregando num botão situado debaixo do histograma, que mostra, através de cores falsas, as porções da imagem afectadas pela sobre-exposição, permitindo também ver a intensidade e efeitos da correcção aplicada, quer manualmente, quer usando as pré-definições.
Claro que há muita ciência por trás desta aparente simplicidade de escolher uma pré-definição e obter instantaneamente resultados incríveis. A DxO tem uma base de dados vastíssima de parâmetros de lentes e sensores, o que lhe permite criar correcções adequadas a cada conjunto câmara-lente. Todos conhecem os testes DxOMark, e é com base nas análises efectuadas com esta metodologia que os presets são elaborados - e é também esta a razão pela qual os resultados são tão satisfatórios. Quando se abre o programa, surge uma caixa que diz Push the limits of your camera. Embora possa parecer de uma presunção trés française, reveladora de uma jactância que gostaria de poder ridicularizar, não o posso fazer. Porquê? Porque esta frase é totalmente verdadeira. O Pro 7 baseia-se nas deficiências encontradas em cada câmara e lente para efectuar as correcções que aplica; deste modo, o processamento da imagem é sempre feito de maneira a adequar os parâmetros da correcção às características da câmara e da lente. É uma concepção extremamente inteligente e, sobretudo, tremendamente eficaz. No final do processamento a imagem mantém as características distintivas de cada fabricante, pelo que não é falso que este software faz recuar os limites da câmara. (Continua)

Parte 2
Parte 3
Parte 4
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(*) Parto do pressuposto que o leitor usa o Windows, que é o sistema operativo que uso; o Pro 7 tem, como seria porventura de esperar, uma versão para Mac, sobre a qual não me posso obviamente pronunciar. 

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