quarta-feira, 25 de abril de 2012

Mais cedo do que o previsto

Pensava deixar passar algum tempo e fazer muitas revelações digitais antes de escrever de novo sobre o Lightroom 4, mas penso que, apesar de o ter instalado há apenas três dias (ainda não completos à hora a que estou a escrever), já posso formular alguns juízos mais ou menos definitivos sobre ele.
Antes de mais, o Lr4 oferece-me algo que é o mesmo que procuro quando uso a câmara: controlo. Tal como quero ter controlo total sobre a exposição no momento em que fotografo, definindo manualmente o modo de exposição, a abertura e a velocidade, o ISO, o equilíbrio dos brancos e a medição, também no retoque da imagem é de exigir uma ferramenta que me dê o máximo de controlo sobre o resultado final. E o Lr4 dá-me esse controlo, e de uma forma que vai muito mais além do que o humilde Olympus Viewer 2 é capaz. Desde logo, posso controlar as sombras e as altas luzes separadamente, e com ferramentas que são bem mais úteis do que me pareceram nas primeiras impressões. E posso fazê-lo apenas numa zona da imagem, se o quiser, ou em toda a imagem. Num programa básico apenas posso clarear ou escurecer a imagem por todo, o que leva frequentemente a resultados indesejáveis.
A outra característica atraente do Lr4 é o facto de ser intuitivo de usar. Como o Viewer se baseia nos comandos do Lr, foi fácil aceder aos parâmetros que mais frequentemente utilizo. É um programa complexo, e decerto vou demorar muito tempo a explorá-lo, mas o essencial da edição de imagem é de fácil acesso e não provoca dores de cabeça. O uso das curvas de tons, por exemplo, é muito mais simples e eficaz do que colocar o cursor sobre a curva e alterar a sua posição manualmente, que é o único procedimento permitido pelo Viewer 2 (eu sei, eu sei: estou a comparar alhos com bugalhos, mas o Viewer é a única referência que tenho em software de edição de imagem).
Acima de tudo, o Lr4 permite-me configurar a fotografia de maneira a torná-la exactamente na que imaginei antes de carregar no botão do obturador. As suas ferramentas oferecem uma possibilidade de ajuste de tal ordem que posso obter, no final da edição, a imagem tal como a quis, i. e. em completa correspondência com a intenção que tive quando a fiz. E isto é absolutamente precioso: com o Lr4 obtenho as fotografias que quis, e não as que o fotómetro e um programa de edição limitado me impuseram. É a isto que chamo controlo, mesmo correndo o risco de parecer um control freak ao escrever desta maneira. Neste aspecto, o Lr4 é o elemento que me faltava para obter fotografias inteiramente satisfatórias.
O Lr4 oferece tantas possibilidades que é fácil cair no exagero e obter fotografias inverosímeis, e este foi o facto que me suscitou tantas reservas quanto ao Photoshop. José Antunes alertou-me há dias para um facto curioso: muitos fotojornalistas que concorreram ao prémio Estação Imagem/Mora foram desclassificados por excesso de Photoshop. Foi este tipo de exagero que me manteve afastado do Photoshop, mas devia ter tido em conta que, quando se fala de «Photoshop», está-se realmente a falar de várias coisas: o CS, o Elements e o Lightroom (além de plug-ins como o Blur Gallery), que podem ser usados separadamente ou em conjunto. Não se deve meter tudo na mesma gaveta. Há quem use o CS com efeitos que se tornam ridículos: uma vez vi, na página da Olympus America do facebook, uma fotografia de uma mulher num pontão, com uma praia por fundo, que foi obtida sobrepondo duas camadas: a da mulher, a cores, e a do pontão, a preto-e-branco. O resultado foi que a mulher ficou enorme, em completa desproporção com o pontão (ou então foi o pontão que ficou minúsculo...). Uma composição hilariante! Outro caso foi o de uma fotografia impossível da Ribeira do Porto, que combinava uma zona de casario iluminada com luz típica do meio da tarde com reflexos no rio que só são visíveis ao fim da tarde - tudo isto cumulado com uma camada de nuvens carregadas que impediriam que a luz incidisse sobre o casario e tornariam impossíveis os reflexos que surgiam na imagem. (Para além da incongruência de surgirem reflexos de luz artificial na água quando a iluminação pública estava desligada!)
São estes exageros e este nível de manipulação que me levantam objecções ao uso daquilo que, em termos genéricos, se designa «Photoshop». Mas isto refere-se essencialmente ao CS, e não ao Lightroom. O CS, do meu ponto de vista, tem o seu domínio de eleição nos trabalhos gráficos - é um instrumento imprescindível para um gráfico -, e não no retoque (ou, preferivelmente, revelação digital) de fotografia; o Lr4 é um programa de edição de imagem que, se for usado ajuizadamente, tem a virtude de fazer, como disse acima, com que a fotografia corresponda exactamente à intenção do fotógrafo. Já a sobreposição de camadas e outras manipulações da imagem me parecem estar fora do domínio da fotografia - embora a tenha por objecto - caindo no domínio das artes gráficas.
A acrescentar a estas objecções há ainda o facto de muitos usarem o Photoshop para tentar melhorar imagens medíocres. E eu nunca alinharei neste jogo. Antes da edição de imagem há que dominar a técnica fotográfica, e antes desta há que puxar pela imaginação e pela criatividade; uma má fotografia será sempre uma má fotografia, por muitas camadas e filtros que se apliquem com o CS6. Os britânicos mais subtis dizem: you can't make a silk purse of a sow's ear; os mais desbocados preferem o equivalente, igualmente certeiro, you can't polish a turd.
Hoje publiquei no meu flickr as primeiras imagens editadas com a demo do Lr4 que estou a usar (v. aqui e aqui). Não vou discutir se são boas ou más do ponto de vista do conteúdo - embora possa dizer que a do pequeno guarda-redes me deixou satisfeito -, porque essa apreciação deve ser feita por quem vê, mas uma coisa é certa: desenvolvi os ficheiros raw de maneira a obter a imagem que correspondia aos meus critérios estéticos e àquilo que queria quando colhi as imagens. As imagens a preto-e-branco da minha câmara tendem a carregar as sombras e exagerar as altas luzes, especialmente quando fotografo no modo A, para além de darem uma tonalidade acastanhada às imagens, características que nunca consegui corrigir satisfatoriamente no Viewer 2; o Lr4 permitiu-me deixá-las tal como as quis. Não sei que mais posso exigir de um programa de edição de imagem. Neste momento, sinto-me tentado a comprá-lo imediatamente - mas quero experimentar mais. Ainda não trabalhei nenhum ficheiro JPEG, e falta-me dominar a redução do ruído de maneira a evitar o surgimento de aberrações como as que relatei no texto anterior. Também não aprendi ainda a exportá-las com a máxima resolução: uma imagem convertida a partir de raw no Viewer 2 fica com cerca de 4 MB; a mesma imagem, depois de desenvolvida no Lr4, fica com pouco mais de 1 MB. Com um pouco de sorte aprenderei a contornar isto. Afinal de contas, ainda estou a descobrir o programa.  

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