segunda-feira, 5 de março de 2012

Manual das aberrações fotográficas (3)


Uma aberração fotográfica que importa ter em conta, especialmente (mas não apenas) quando se fotografa com teleobjectivas e se pretende manter a imagem em foco em todos os planos, é a difracção. Posta de uma maneira simples (e sem recurso às equações que podem ser encontradas na Wikipédia), a noção de difracção pode ser dada como o desvio dos raios luminosos ao incidirem sobre um corpo opaco.
Por vezes, ao ver uma fotografia afectada pela difracção, este fenómeno pode ser confundido com a desfocagem que ocorre naturalmente quando se usam lentes com profundidade de campo reduzida, mas a verdade é que a difracção não acontece apenas quando se usam distâncias focais longas. Mesmo com grandes-angulares é possível verificar os efeitos da difracção, que podem ser vistos como uma perda notória de nitidez em determinados planos. Para compreender melhor a difracção, interessa referir que a luz, como qualquer onda, não se comporta uniformemente quando tem de atravessar um determinado caminho: a luz que penetra na lente não tem as mesmas características depois de atravessar o diafragma. Quanto mais aberto este estiver, menor será o desvio dos raios de luz. Inversamente, o uso de aberturas estreitas provoca um desvio mais acentuado. Pensemos num prisma: para decompor o espectro cromático, a luz tem de ser encaminhada através de um orifício estreito antes de atingir o prisma. Na difracção passa-se sensivelmente o mesmo – simplesmente, em lugar de obter o espectro luminoso que torna visíveis as cores do arco-íris, o que sucede, quando se usam aberturas estreitas, é uma perda de nitidez. 
Deixei propositadamente para o fim a causa da difracção, ou melhor, o momento em que esta ocorre. Embora exista um grande número de variáveis, como por ex. a área do sensor (a difracção afecta menos os sensores de áreas maiores), a distância focal ou a qualidade intrínseca da lente, tem-se como adquirido que a difracção ocorre quando se usam aberturas mais estreitas que f11. É por esta razão que a difracção ocorre mais facilmente com teleobjectivas: como a profundidade de campo destas lentes é mais reduzida – e tanto mais quanto maior for a distância focal –, há uma tendência, para manter a nitidez em todos os planos, para escolher aberturas estreitas (e nós já sabemos que a focagem depende directamente da abertura e das variações que esta provoca na profundidade de campo). E usar aberturas estreitas é também essencial, por força da lei da reciprocidade, para obter velocidades de disparo lentas. No caso da fotografia acima, foi necessária uma abertura de f20 para obter o efeito de arrastamento da água - e as consequências são visíveis na perda de nitidez da linha do horizonte.
Devem, por isto, ser evitadas aberturas demasiado estreitas. Como em tudo, há que fazer escolhas: ou se sacrifica a focagem nos planos mais longínquos, recorrendo a aberturas maiores, ou se usam aberturas estreitas, com o risco de perda de nitidez.

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