quinta-feira, 1 de março de 2012

Acordo ortográfico: arrepiando caminho


Libertem-me do acordo ortográfico, por favor! Ontem surgiu a notícia de que o governo estaria a ponderar a revogação do acordo ortográfico de 1990, o que seria a única iniciativa decente desde que tomou posse. O português a que o AO obriga é estranho demais: mesmo dando de barato que hoje não escrevemos como no século passado, estas alterações à ortografia parecem-me demasiado forçadas para corresponderem a uma evolução natural da língua portuguesa: ato, ata, perspetiva, perentório, atual, ação, efetivo, aspeto… não gosto. É demasiado estranho. Não conseguia escrever certas palavras conforme o AO, como «ótico», porque me pareciam absurdas. Sempre manifestei o meu estatuto de objector de consciência quando, essencialmente por motivos profissionais, o usei, mas agora acabou: não vou voltar a usá-lo. Esta decisão é como descalçar sapatos demasiado apertados: um alívio!
Outra aberração do acordo ortográfico é o facto de ter entrado em vigor sem que se tivesse verificado uma condição normativa essencial – a sua ratificação por todos os países signatários. Sendo assim, é ineficaz. Acresce que a sua aplicação prática é ditada por remissão para o referido acordo de 1990 - o tal que não foi ratificado por todos os signatários - e… pelo uso do conversor LINCE. Por amor de Deus – uma aplicação informática com valor normativo! É de loucos.
Outro aspecto curioso: o acordo ortográfico não veio unificar a ortografia do português: a norma que obriga à supressão das consoantes mudas significa que, em Portugal, escrevemos «perspetiva» e «aspeto», porque aqui não lemos os cc, mas os brasileiros vão continuar a escrever «perspectiva» e «aspecto» porque lá lêem os cc! É demasiado mal pensado, e não vai produzir o efeito esperado.
Por tudo isto, vou reverter para o português correcto. Se vier aí a PSP obrigar-me a escrever de acordo com o AO, eu... vou para tribunal e ganho! Seria um enorme alívio se o governo suspendesse a aplicação do acordo e se este fosse estudado de uma maneira mais racional. Não discuto a necessidade de unificar a ortografia, nem renego a evolução da língua – nós já não escrevemos «pharmacia», «portuguez» nem «inflacção» –, mas sempre manifestei reservas quanto a esta evolução forçada. E entendo que qualquer acordo deve ser feito com a aproximação das diversas ortografias à matriz do português, em lugar de alterar a matriz para corresponder aos seus desvios.

1 comentário:

Gabriel P. Knoll disse...

desculpe, amigo português, mas isto tem a ver muito com nós brasucas e africanos, que misturamos muito as línguas nativas dos nossos países com o português e passamos a ser maioria (numérica) de falantes.

Também acho complicadíssimo escrever com a nova ortografia, e olhe que sou Brasuca.

Forte abraço

PS: belo blog.