segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Congelamento, arrastamento e panning

Uma das formas mais poderosas de conferir criatividade a uma imagem é jogar com o tempo de exposição. A velocidade do disparo pode ser escolhida para obter os efeitos mais espectaculares, quer induzindo uma sensação de movimento em imagens nas quais este não existe, quer paralisando o movimento do objecto. Ou pode, como no caso do panning, inverter a percepção de movimento, criando a ilusão de que o objecto em movimento está estático e é o fundo que se move. Vamos ver como se faz:
Congelamento: velocidade do obturador 1/400
Para congelar o movimento, são necessárias velocidades de disparo elevadas. Para melhor controlo deste efeito, deve ser usado o modo manual (M) ou, preferencialmente, a prioridade ao disparo (modo S). Regula-se o tempo da exposição para um valor baixo (1/400 ou mais rápido) e dispara-se. É, na verdade, muito simples; a única precaução a tomar é que o objecto seleccionado preencha bem o enquadramento - não apenas quanto ao tamanho do objecto na imagem, o que é importante, mas pelo momento: nestas fotografias o timing é tudo. Tomemos o exemplo da fotografia de um automóvel em movimento: uma fracção de segundo demasiado cedo, e apenas a dianteira surge no enquadramento; uma fracção de segundo demasiado tarde, e só a parte posterior é fixada na imagem. Isto pode ser feito com grandes-angulares, standards ou teleobjectivas - desde que estas últimas respondam bem à focagem automática, o que nem sempre acontece.
Arrastamento: velocidade do obturador 2''
A despeito do risco de um leigo poder tomar uma fotografia com este efeito por uma imagem mal focada, o arrastamento também pode ser usado para obter resultados extremamente interessantes. E não me refiro apenas àqueles rastos de luz deixados pelos automóveis: há muitas outras imagens que beneficiam deste efeito. Como no exemplo acima, em que a água parece adquirir uma textura cremosa (e é possível fazer ainda melhor). Também resulta com quedas de água e, com imaginação, conseguem obter-se efeitos interessantes com um sem número de objectos em movimento, desde carrosséis a atletas em plena competição. Para causar o arrastamento, podem ser usados os modos M ou S. Selecciona-se uma velocidade de disparo lenta, que pode ser na ordem dos 2 segundos ou mais, dependendo das condições de luminosidade. Em teoria, parece fácil, mas o uso de velocidades tão lentas implica algumas precauções. Antes de mais, é obrigatório o uso de um tripé. E torna-se necessário evitar a sobre-exposição, o que se faz seleccionando uma abertura estreita. (No modo S é a própria câmara que se encarrega de escolher a abertura mais apropriada.)
Panning: velocidade do obturador 1/60
Depois há o panning, que é, em simultâneo, um congelamento e um arrastamento. Enquanto no congelamento se procura que toda a imagem permaneça estática, no panning congela-se o objecto em movimento e são os objectos imóveis que criam a impressão de movimento. As imagens obtidas com esta técnica - muito usada, por ex., na fotografia de desportos motorizados - são altamente dinâmicas, mas permitem que o objeto fotografado surja com nitidez. O panning ficou para o fim por ser, de longe, a técnica mais difícil. Na verdade, a menos que se seja um fotógrafo profissional altamente especializado - digamos, um Schlegelmilch -, é extremamente difícil obter boas imagens, sendo estas o resultado de tentativa e erro. Só ao fim de dezenas de tentativas é que se pode ter a sorte de obter uma imagem como a mostrada (que é apenas um teste, já que o automóvel em questão não tem, convenhamos, nada de interessante: as câmaras feitas pelos japoneses são bem mais bonitas que os seus automóveis...)
Para fazer panning, é necessário seguir a trajectória do objecto com a câmara, o que implica que o fotógrafo e a câmara rodem a partir de uma posição fixa, acompanhando o movimento. O que pode suscitar reacções curiosas dos transeuntes, eventualmente levando o fotógrafo a questionar-se acerca da figurinha que está a fazer. Quando o objecto estiver enquadrado, dispara-se. Deve usar-se uma velocidade relativamente lenta (dependendo da velocidade a que o objecto a fotografar se desloca, algures entre 1/30 e 1/100). O segredo de um panning bem sucedido consiste em continuar o movimento rotativo, seguindo o objecto mesmo depois de premido o botão do disparo. Deve resistir-se à tentação de interromper o movimento corporal depois do disparo. É que o facto de se ouvir o click das cortinas não significa que a exposição tenha terminado: como os tempos de exposição são relativamente prolongados, as cortinas mantêm-se abertas durante algum tempo depois de premido o botão do obturador.
Não vou dizer que isto é fácil. Aliás, destas três modalidades, apenas o congelamento é simples de efectuar. Contudo, se fotografar criativamente fosse fácil, não seriam necessárias boas câmaras nem cursos e workshops de fotografia. E fotografar deixaria de ser um desafio: perderia metade da diversão.

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